Em Tinalhas, os Reis Magos têm algo de curioso, sem par noutras terras. No dia 5 de Janeiro (véspera de dia de Reis – 6 de Janeiro), na povoação, há alegria, movimento, animação!... Durante todo o dia tange sem cessar a sineta da Capela do Espírito a anunciar a todos os tinalhenses que têm de repetir a veneranda tradição legada pelos antepassados – “O Ah! Que se cha!” ( nome que se dá aos reis magos de Tinalhas por adulteração daquele verso: Ó que se cha …que se chamaria Rei). Por isso, novos e velhos, depois dos afazeres rurais e do jantar familiar, vão convergindo para o Largo da Capela onde, de há alguns anos para cá, está um “ madeiro” a arder. Chega o tambor da confraria e o bombo e pratos da banda local. Junto do primeiro, forma-se um grupo – o dos solteiros – e em redor dos últimos, outro – o dos casados. E todos, descobertos e com a maior religiosidade e respeito, começam a marcha pelas ruas da aldeia a cantar com o acompanhamento do tambor, do bombo, dos pratos e de outros instrumentos que se juntam, dialogando um autêntico auto dos Reis Magos:
-Alegai-vos, alegrai-vos!
Oh! que aqui estão os três Reis Magos!
Ao que os do segundo grupo, ou seja, o dos casados, responde:
- Oh! Que aqui estão, aqui estão,
Oh! Que estão
os três Reis Magos.
Continuam os do primeiro grupo e assim sucessivamente:
-Os três Reis Magos são chegados
Oh! Em seguida, em seguida
vêem a guia!
-Vão cantar ao Rei Messias
Oh! Pela estrela, pela estrela
guiados!
-Há muitos anos havia
Oh! Que andavam, que andavam
aguardando!
-O que a Virgem “pariria”
Oh! Porém nãoporém não sabiam
quando!
-“Pariria” um Menino
Oh! Que se cha,cha
maria Rei.
-Ele Rei se chamaria
Oh! Filho da, filho da
Virgem Maria!
Volta-se ao início até se percorrer toda a freguesia. Ao passarem pelas ruas, das janelas e varandas aparecem candeeiros para alumiar o cortejo. Nas casas do juiz e mordomos da Confraria do Espírito Santo e das famílias gradas pára-se, cantando todos os versos já referidos. E estas famílias, enquanto se realiza a “ volta “, mandam para a sacristia da capela: filhós, nozes, figos secos e vinho.
Depois de dada a "volta” por toda a aldeia, o cortejo chega ao largo da capela, e como que num desafio entre o grupo dos solteiros e o grupo dos casados, cantam o mais que podem. E a festa bem religiosa na intenção e unção, bem pagã na forma, termina sempre pela distribuição das filhós, das nozes, figos secos e vinho, na sacristia, a todos os devotos que se incorporaram no cortejo. Enquanto comem e bebem na capela, cá fora, no largo, em volta do “madeiro”, rapazes e raparigas dançam ao som da música.
Obs: A estes "Reis Magos” há também quem chame “Janeiras de Tinalhas”.
Filipa Carvalho
6ºB
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